segunda-feira, 7 de julho de 2025
quinta-feira, 26 de junho de 2025
domingo, 25 de maio de 2025
CONFRARIAS E ORDENS TERCEIRAS EM SERGIPE DEL REY
CONFRARIAS SANCRISTOVENSE DE HISTÓRIA E MEMÓRIA
As confrarias
constituíram os pilares do ensinamento catequético, chegando inclusive a
possuir uma biblioteca própria composta de bíblias ilustradas, sermonários e
literatura piedosa em geral. O conjunto de fiéis, composto em grande parte por
analfabetos, adquiria conhecimento pelo hábito da escuta, ou seja, através da
leitura compartilhada praticada por ocasião das missas, pregações e aulas de
catecismo promovidas pela paróquia. Veja exemplos de acervos raros sob aguarda
das paróquias ouropretanas ou já reunidos nos arquivo das dioceses de Mariana,
Sabará, Diamantina e São João Del Rei.
Na época Moderna a
vivência religiosa dos leigos foi marcada pela fundação de ordens terceiras e
irmandades, genericamente tratadas pelo termo confraria. Tais associações
nasceram na Idade Média e foram muito estimuladas pela Igreja, sobretudo a
partir do século XVI. O século XIII foi generoso com o laicato, São Simão
Stock, São Francisco de Assis e São Domingos fundaram ordens terceiras na
Europa medieval por se preocuparem com a espiritualidade de homens e mulheres
comuns.
Ressalta-se que,
embora tradicionais, as confrarias foram assimiladas ao processo modernizador
de reforma espiritual e se aclimataram aos territórios conquistados ou
evangelizados durante a época moderna. Assim sendo, reitera-se que o vínculo
associativo de vida fraterna não foi um fenômeno específico do mundo
ibero-americano. De maneira geral, as confrarias foram importante instrumento
catequético, pois ensinavam a seus membros as principais orações, os pecados
capitais, as virtudes cardeais e teologais (fé, esperança, caridade), os sete
sacramentos, os dez mandamentos, o exame diário de consciência, bem como a
prática da confissão e comunhão por ocasião da quaresma.
As ordens
terceiras eram compostas por leigos, muitos deles reinóis – casados ou
solteiros – que desejavam seguir a regra franciscana ou carmelita sem fazer os
votos solenes (castidade, pobreza e clausura). Geralmente a eleição da mesa
diretora dos terciários era ratificada por autoridade provincial, representante
do convento respectivo que também tinha a função de inspecionar periodicamente
a agremiação leiga. Os estatutos das ordens terceiras instituíam práticas
religiosas afinadas com o ideário reformado: exercícios penitenciais, confissão
e comunhão com maior frequência e preparação espiritual através do noviciado.
Os terceiros
sentiam-se mais qualificados na hierarquia social e espiritual que os membros
das irmandades, pois normalmente faziam parte da elite (artesanal, intelectual,
política e militar) e também eram irmãos professos. Profissionais destacados no
ofício de pedreiro, carpinteiros, entalhadores, escultores, pintores e
empreiteiros foram membros dessas associações e foram sepultados em seus
templos. Por isso, na época colonial foi comum o registro de disputas, litígios
e retaliações entre esses dois tipos de confrarias2. Além do mais,
conforme já demonstrou Marcos Magalhães Aguiar, as confrarias de africanos,
crioulos e mulatos foram tenazes contra as prerrogativas da paróquia, sempre no
intuito de atingir maior autonomia.
As irmandades,
também compostas por leigos, não tinham vínculo com as ordens conventuais. Tais
agremiações mantinham um aspecto devocional (ligado às raízes populares da
religiosidade medieval) e dedicavam-se ao culto dos santos, dos anjos, das
almas do purgatório, de Nossa Senhora e da Santíssima Trindade. Os membros
agremiavam-se conforme o ideário dos pares, ou seja, por critérios étnicos,
profissionais e sociais.3
As
irmandades eram fiscalizadas por autoridade diocesana (representante do bispado
respectivo) e possuíam uma mesa administrativa eleita anualmente. O
irmão-provedor, o escrivão, o tesoureiro e os doze mordomos prestavam serviços
à mesa da agremiação e contribuíam com taxas proporcionais à dignidade do cargo
que ocupavam. Em contrapartida, eles recebiam um número maior de missas em caso
de falecimento, tendo o irmão provedor o privilégio de ser sepultado na
capela-mor do templo.
As ordens terceira
e irmandades garantiam aos seus filiados uma proteção corporativa que implicava
na assistência espiritual e material. Em geral, elas responsabilizavam-se pela
prestação dos seguintes serviços piedosos: socorro em caso de doença, viuvez ou
desgraça pessoal; preparação e execução de cortejos fúnebres e enterros
solenes; celebração de missas em sufrágio da alma e concessão de sepultura em
solo sagrado o que era feito com beneplácito da paróquia. Por sua vez, os
irmãos agremiados deveriam cumprir uma série de deveres, a saber: pagar a taxa
de matricula estipulada pela confraria, quitar as anuidades estabelecidas em
compromisso, acompanhar os funerais dos irmãos falecidos e rezar por suas
almas, participar das festas e celebrações realizadas em louvor do padroeiro da
associação religiosa.
O aspecto
normativo do corpo comunitário buscava desbastar manifestações fora da
ortodoxia ou do que era aceitável no âmbito religioso e social. Dessa forma,
havia uma vigilância sobre a origem dos agremiados com o intuito de não
permitir a filiação de “raça infecta” – mouros e judeus, cuja religião era
considerada herege – nem de membros que tivessem comportamento vexatório ou
vida pregressa escandalosa. Em várias irmandades de crioulos (negros nascido na
colônia) não se aceitava o negro boçal, ou seja, o africano que não dominava a
língua vernácula. Por sua vez, determinadas irmandades do Rosário dos Pretos
registraram em seus estatutos a proibição de se aceitar quilombolas. Com essa
argumentação reitera-se que as irmandades e ordens terceiras eram tradicionais,
mas se aclimatavam ao contexto colonial
Quanto mais
extenso e diversificado socialmente o núcleo urbano, maior o número de
confrarias, isto é, de associações de leigos institucionalizadas a partir de livros
de compromissos aprovados pela Mesa de Consciência e Ordens ou pelo bispado
mais próximo. Contudo, foi muito frequente a existência de irmandades de
devoção, ou seja, de agremiações religiosas que tinham finalidade meramente
cultual e que, por isso, não foram erigidas oficialmente. Vale lembrar que as
populações adventícias e também os leigos que nasceram no território americano
português foram responsáveis pela edificação e ornamentação de muitos templos,
visando à beleza do culto, a convivência social e a assistência mútua.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
O LEGADO DE MARIA VESTA VIANA
Por Vera Lúcia , escritora, poetisa e pesquisadora
Nasceu no dia 30 de
agosto de 1938. Artista plástica e poetisa de São Cristóvão, conhecida como
pintora primitiva de igrejas e paisagens de sua cidade. Ainda menina, descobriu
seu talento com as tintas e em 1970 foi descoberta como artista plástica, pelo
ilustre casal, Jorge Amado e Zélia Gattai, enquanto visitavam a 4ª Cidade mais
antiga do Brasil, em busca dos deliciosos doces, confeccionados e
comercializados por Dona Noêmia Soares Viana, se deparou com a garota simples,
entretida em meio a tintas e tela.
Em 1972, Vesta Viana
montou ateliê em sua casa e o manteve até 1986. Sua Exposição no 1º FASC e a
ajuda de Jorge Amado e Zélia Gattai foram de suma importância para a
consagração da artista e para a divulgação de sua obra. Por intermédio do
casal, sua obra integra o acervo do Museu de Arte Primitiva de Guimarães,
Portugal e diversas instituições culturais receberam seus quadros.
Como poetisa, seguiu a mesma linha da artista plástica, inspirando-se sempre nas belezas da sua terra natal. Sua obra poética não chegou ao conhecimento das editoras
PRAÇA SÃO FRANCISCO
OLHEI EM PLENA MADRUGADA
QUANDO DORMIA O MOVIMENTO.
DEMOREI NUM PONTO PARADA
DIANTE DO PÁLIDO CONVENTO.
VI O PALÁCIO CALMAMENTE
JUNTO A ASSEMBLÉIA REPOUSANTE
O ORFANATO HOSPITALEIRO
EM FRENTE DO VELHO CRUZEIRO.
VI A LINHA COLONIAL
DESTA PRAÇA QUE É IMORTAL
SÓ O SUSSURRO DIZ SUA GLÓRIA
DE FILHOS CÉLEBRES NA HISTÓRIA.
ESQUECI MEU PENSAMENTO
OLHANDO O BELO FIRMAMENTO
ORNADO DE NUVENS PRATEADAS
DECORANDO ESTA MADRUGADA.
maria vesta viana, são cristóvão, 10 de
fevereiro de 1963
A artista dirigiu na
década de 90, a instituição Centro de Artes Aloísio Magalhães, onde também
ministrava aulas de pintura, com muita competência. Ela recebeu em 2005 a
Comenda Cultural FASC, dedicada àqueles que contribuíram para criação e para o
sucesso do evento.
Vesta Viana manteve ao
longo de sua vida, uma prestação de serviço gratuito à população de São
Cristóvão, através dos seus relevantes conhecimentos sobre a história da
cidade, disponibilizando-os a quem a procurasse. Disso posso falar, pois em
meados de 2008, estive em sua casa, em busca de informações acerca do Primeiro
Festival de Artes de São Cristóvão. Educada, cordial e humilde, a artista abriu
suas portas e me acolheu em um longo e incansável diálogo, o qual foi de grande
valia para a confecção do meu Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado
Faculdade Atlântico (Em 2021 publicado com título: O Resgate Memorialístico do
I FASC). Após horas de conversa, anotações e delírios, deixei a casa 54, da Rua
Frei Santa Cecília, maravilhada e cheia de admiração por aquela pessoa/artista
encantadora e nobre.
Maria Vesta Viana faleceu
no dia 21 de janeiro de 2017, aos 79 anos.
ASCLEA
HOMENAGEIA MARIA VESTA VIANA
Na tarde de quinta, 31/1,
a Academia Sancristovense de Letras e Artes (ASCLEA) realizou a primeira edição
do projeto “Homenagem ao Patrono(a)”, com uma sessão dedicada a artista Maria
Vesta Viana, patrona da cadeira N. 7, ocupada pela poetisa Vera Lúcia dos
Santos.
Houve recital poético e
palestras sobre a vida e a obra de Vesta Viana, falecida no dia 21 de janeiro
de 2017. "Dois anos sem Vesta",
como alguns ascleanos batizaram o evento, revelou o quanto São Cristóvão era
essencial na inspiração e no estado de espírito desta sancristovense, amiga de
Zellia Gattai e Jorge Amado.
Sua relação bairrista com
São Cristóvão tinha no passado imperial algo extemporâneo. Explico. Vesta era
monarquista e vivia àquela época mesmo vivendo em tempos republicanos, não por
acaso compareceu a recepção ao herdeiro do trono imperial, Dom Luiz de Orleans
e Bragança, no Museu Histórico de Sergipe, por ocasião do plebiscito “Brasil:
republicano ou monarquia parlamentarista?”, em 1993.
Idealizamos homenagear a artista, com a denominação da
Travessa que faz oitão a sua residência. Pensamos ser significativo, dar seu
nome àquele lugar que faz parte de nossas memórias. Lugar onde ela passava as
tardes contemplando a paisagem, conversando com familiares e amigos, e
cumprimentando a todos que por ali passava. A proposta foi acolhida pela
ASCLEA, aprovada pela Câmara Municipal. O descerramento da placa da Travessa
Maria Vesta Viana se deu em 01 de agosto 2019, como parte da comemoração do 2º
aniversário da Arcádia.
De início, todos
compareceram ao descerramento da placa da Travessa Maria Vesta Viana, justa
homenagem a inesquecível artista falecida há 2 anos.
No dia 06/11/2024, a artista plástica são-cristovense
foi homenageada pelo também artista plástico Marcos Deumares, com doação de uma
tela medindo 57x67cm em óleo sobre tela, estilo realista, do busto de Maria
Vesta Viana, à Prefeitura Municipal de São Cristóvão. Na cerimônia de entrega,
a poetisa e ocupante da Cadeira que leva o nome da artista homenageada, fez uma
breve reflexão sobre a vida e a obra de Vesta.
(Foto: Heitor Xavier)
A cerimônia aconteceu no Salão de Artes Vesta Viana,
com a presença de estudantes, aristas, membros da Confraria Sancristovense de
História e Memória, autoridades locais, amigos e amantes das artes, onde de
pronto sua imagem fora instalada.
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Fontes: https://thiagofragata.blogspot.com/search/label/Vesta%20Viana
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Vera Lúcia dos Santos é de São Cristóvão, formada em Letras,
professora, pesquisadora, escritora e poetisa. Membro fundadora da Academia
Sancristovense de Letras e Artes, da Academia Municipalista de Sergipe e membro
efetivo da Confraria Sancristovense de História e Memória. Participa dos
Coletivos Literários: Sarau Sergipano de Mulheres e Café Poético Sergipano.
Autora dos livros “O Resgate Memorialístico do I Festival de Arte de São
Cristóvão”, “Eu Barco, poesia que enfuna o fluxo das marés” e do Cordel “São
Cristóvão e Seus Festivais”. É coautoras em diversas antologias e tem textos
publicados em jornais e redes sociais.












