domingo, 25 de maio de 2025

CONFRARIAS E ORDENS TERCEIRAS EM SERGIPE DEL REY

 

CONFRARIAS  SANCRISTOVENSE  DE HISTÓRIA  E MEMÓRIA 




As confrarias constituíram os pilares do ensinamento catequético, chegando inclusive a possuir uma biblioteca própria composta de bíblias ilustradas, sermonários e literatura piedosa em geral. O conjunto de fiéis, composto em grande parte por analfabetos, adquiria conhecimento pelo hábito da escuta, ou seja, através da leitura compartilhada praticada por ocasião das missas, pregações e aulas de catecismo promovidas pela paróquia. Veja exemplos de acervos raros sob aguarda das paróquias ouropretanas ou já reunidos nos arquivo das dioceses de Mariana, Sabará, Diamantina e São João Del Rei.

 


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Na época Moderna a vivência religiosa dos leigos foi marcada pela fundação de ordens terceiras e irmandades, genericamente tratadas pelo termo confraria. Tais associações nasceram na Idade Média e foram muito estimuladas pela Igreja, sobretudo a partir do século XVI. O século XIII foi generoso com o laicato, São Simão Stock, São Francisco de Assis e São Domingos fundaram ordens terceiras na Europa medieval por se preocuparem com a espiritualidade de homens e mulheres comuns.

 


Ressalta-se que, embora tradicionais, as confrarias foram assimiladas ao processo modernizador de reforma espiritual e se aclimataram aos territórios conquistados ou evangelizados durante a época moderna. Assim sendo, reitera-se que o vínculo associativo de vida fraterna não foi um fenômeno específico do mundo ibero-americano. De maneira geral, as confrarias foram importante instrumento catequético, pois ensinavam a seus membros as principais orações, os pecados capitais, as virtudes cardeais e teologais (fé, esperança, caridade), os sete sacramentos, os dez mandamentos, o exame diário de consciência, bem como a prática da confissão e comunhão por ocasião da quaresma.

 


As ordens terceiras eram compostas por leigos, muitos deles reinóis – casados ou solteiros – que desejavam seguir a regra franciscana ou carmelita sem fazer os votos solenes (castidade, pobreza e clausura). Geralmente a eleição da mesa diretora dos terciários era ratificada por autoridade provincial, representante do convento respectivo que também tinha a função de inspecionar periodicamente a agremiação leiga. Os estatutos das ordens terceiras instituíam práticas religiosas afinadas com o ideário reformado: exercícios penitenciais, confissão e comunhão com maior frequência e preparação espiritual através do noviciado.

 


Os terceiros sentiam-se mais qualificados na hierarquia social e espiritual que os membros das irmandades, pois normalmente faziam parte da elite (artesanal, intelectual, política e militar) e também eram irmãos professos. Profissionais destacados no ofício de pedreiro, carpinteiros, entalhadores, escultores, pintores e empreiteiros foram membros dessas associações e foram sepultados em seus templos. Por isso, na época colonial foi comum o registro de disputas, litígios e retaliações entre esses dois tipos de confrarias2. Além do mais, conforme já demonstrou Marcos Magalhães Aguiar, as confrarias de africanos, crioulos e mulatos foram tenazes contra as prerrogativas da paróquia, sempre no intuito de atingir maior autonomia.

 


As irmandades, também compostas por leigos, não tinham vínculo com as ordens conventuais. Tais agremiações mantinham um aspecto devocional (ligado às raízes populares da religiosidade medieval) e dedicavam-se ao culto dos santos, dos anjos, das almas do purgatório, de Nossa Senhora e da Santíssima Trindade. Os membros agremiavam-se conforme o ideário dos pares, ou seja, por critérios étnicos, profissionais e sociais.3 As irmandades eram fiscalizadas por autoridade diocesana (representante do bispado respectivo) e possuíam uma mesa administrativa eleita anualmente. O irmão-provedor, o escrivão, o tesoureiro e os doze mordomos prestavam serviços à mesa da agremiação e contribuíam com taxas proporcionais à dignidade do cargo que ocupavam. Em contrapartida, eles recebiam um número maior de missas em caso de falecimento, tendo o irmão provedor o privilégio de ser sepultado na capela-mor do templo.

 


 

As ordens terceira e irmandades garantiam aos seus filiados uma proteção corporativa que implicava na assistência espiritual e material. Em geral, elas responsabilizavam-se pela prestação dos seguintes serviços piedosos: socorro em caso de doença, viuvez ou desgraça pessoal; preparação e execução de cortejos fúnebres e enterros solenes; celebração de missas em sufrágio da alma e concessão de sepultura em solo sagrado o que era feito com beneplácito da paróquia. Por sua vez, os irmãos agremiados deveriam cumprir uma série de deveres, a saber: pagar a taxa de matricula estipulada pela confraria, quitar as anuidades estabelecidas em compromisso, acompanhar os funerais dos irmãos falecidos e rezar por suas almas, participar das festas e celebrações realizadas em louvor do padroeiro da associação religiosa.

 


O aspecto normativo do corpo comunitário buscava desbastar manifestações fora da ortodoxia ou do que era aceitável no âmbito religioso e social. Dessa forma, havia uma vigilância sobre a origem dos agremiados com o intuito de não permitir a filiação de “raça infecta” – mouros e judeus, cuja religião era considerada herege – nem de membros que tivessem comportamento vexatório ou vida pregressa escandalosa. Em várias irmandades de crioulos (negros nascido na colônia) não se aceitava o negro boçal, ou seja, o africano que não dominava a língua vernácula. Por sua vez, determinadas irmandades do Rosário dos Pretos registraram em seus estatutos a proibição de se aceitar quilombolas. Com essa argumentação reitera-se que as irmandades e ordens terceiras eram tradicionais, mas se aclimatavam ao contexto colonial

 


Quanto mais extenso e diversificado socialmente o núcleo urbano, maior o número de confrarias, isto é, de associações de leigos institucionalizadas a partir de livros de compromissos aprovados pela Mesa de Consciência e Ordens ou pelo bispado mais próximo. Contudo, foi muito frequente a existência de irmandades de devoção, ou seja, de agremiações religiosas que tinham finalidade meramente cultual e que, por isso, não foram erigidas oficialmente. Vale lembrar que as populações adventícias e também os leigos que nasceram no território americano português foram responsáveis pela edificação e ornamentação de muitos templos, visando à beleza do culto, a convivência social e a assistência mútua.

 

 



quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

O LEGADO DE MARIA VESTA VIANA

                                              


                                                                                          Por  Vera Lúcia , escritora,                                                                                    poetisa e pesquisadora




Nasceu no dia 30 de agosto de 1938. Artista plástica e poetisa de São Cristóvão, conhecida como pintora primitiva de igrejas e paisagens de sua cidade. Ainda menina, descobriu seu talento com as tintas e em 1970 foi descoberta como artista plástica, pelo ilustre casal, Jorge Amado e Zélia Gattai, enquanto visitavam a 4ª Cidade mais antiga do Brasil, em busca dos deliciosos doces, confeccionados e comercializados por Dona Noêmia Soares Viana, se deparou com a garota simples, entretida em meio a tintas e tela.

 

Em 1972, Vesta Viana montou ateliê em sua casa e o manteve até 1986. Sua Exposição no 1º FASC e a ajuda de Jorge Amado e Zélia Gattai foram de suma importância para a consagração da artista e para a divulgação de sua obra. Por intermédio do casal, sua obra integra o acervo do Museu de Arte Primitiva de Guimarães, Portugal e diversas instituições culturais receberam seus quadros.

 

Como poetisa, seguiu a mesma linha da artista plástica, inspirando-se sempre nas belezas da sua terra natal. Sua obra poética não chegou ao conhecimento das editoras


                             PRAÇA SÃO FRANCISCO 


OLHEI EM PLENA MADRUGADA

QUANDO DORMIA O MOVIMENTO.

DEMOREI NUM PONTO PARADA

DIANTE DO PÁLIDO CONVENTO.


VI O PALÁCIO CALMAMENTE

JUNTO A ASSEMBLÉIA REPOUSANTE

O ORFANATO HOSPITALEIRO

EM FRENTE DO VELHO CRUZEIRO.

 

VI A LINHA COLONIAL

DESTA PRAÇA QUE É IMORTAL

SÓ O SUSSURRO DIZ SUA GLÓRIA

DE FILHOS CÉLEBRES NA HISTÓRIA.

 

ESQUECI MEU PENSAMENTO

OLHANDO O BELO FIRMAMENTO

ORNADO DE NUVENS PRATEADAS

DECORANDO ESTA MADRUGADA.

 

maria vesta viana, são cristóvão, 10 de fevereiro de 1963

 

A artista dirigiu na década de 90, a instituição Centro de Artes Aloísio Magalhães, onde também ministrava aulas de pintura, com muita competência. Ela recebeu em 2005 a Comenda Cultural FASC, dedicada àqueles que contribuíram para criação e para o sucesso do evento.

 

Vesta Viana manteve ao longo de sua vida, uma prestação de serviço gratuito à população de São Cristóvão, através dos seus relevantes conhecimentos sobre a história da cidade, disponibilizando-os a quem a procurasse. Disso posso falar, pois em meados de 2008, estive em sua casa, em busca de informações acerca do Primeiro Festival de Artes de São Cristóvão. Educada, cordial e humilde, a artista abriu suas portas e me acolheu em um longo e incansável diálogo, o qual foi de grande valia para a confecção do meu Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado Faculdade Atlântico (Em 2021 publicado com título: O Resgate Memorialístico do I FASC). Após horas de conversa, anotações e delírios, deixei a casa 54, da Rua Frei Santa Cecília, maravilhada e cheia de admiração por aquela pessoa/artista encantadora e nobre.

Maria Vesta Viana faleceu no dia 21 de janeiro de 2017, aos 79 anos.

 

ASCLEA HOMENAGEIA MARIA VESTA VIANA



Herdeira de Vesta Viana, Mariana, recepcionada por Vera Lúcia.


Na tarde de quinta, 31/1, a Academia Sancristovense de Letras e Artes (ASCLEA) realizou a primeira edição do projeto “Homenagem ao Patrono(a)”, com uma sessão dedicada a artista Maria Vesta Viana, patrona da cadeira N. 7, ocupada pela poetisa Vera Lúcia dos Santos. 

Houve recital poético e palestras sobre a vida e a obra de Vesta Viana, falecida no dia 21 de janeiro de 2017. "Dois anos sem Vesta", como alguns ascleanos batizaram o evento, revelou o quanto São Cristóvão era essencial na inspiração e no estado de espírito desta sancristovense, amiga de Zellia Gattai e Jorge Amado. 

 

Sua relação bairrista com São Cristóvão tinha no passado imperial algo extemporâneo. Explico. Vesta era monarquista e vivia àquela época mesmo vivendo em tempos republicanos, não por acaso compareceu a recepção ao herdeiro do trono imperial, Dom Luiz de Orleans e Bragança, no Museu Histórico de Sergipe, por ocasião do plebiscito “Brasil: republicano ou monarquia parlamentarista?”, em 1993.


 


Idealizamos homenagear a artista, com a denominação da Travessa que faz oitão a sua residência. Pensamos ser significativo, dar seu nome àquele lugar que faz parte de nossas memórias. Lugar onde ela passava as tardes contemplando a paisagem, conversando com familiares e amigos, e cumprimentando a todos que por ali passava. A proposta foi acolhida pela ASCLEA, aprovada pela Câmara Municipal. O descerramento da placa da Travessa Maria Vesta Viana se deu em 01 de agosto 2019, como parte da comemoração do 2º aniversário da Arcádia.

De início, todos compareceram ao descerramento da placa da Travessa Maria Vesta Viana, justa homenagem a inesquecível artista falecida há 2 anos.


 




No dia 06/11/2024, a artista plástica são-cristovense foi homenageada pelo também artista plástico Marcos Deumares, com doação de uma tela medindo 57x67cm em óleo sobre tela, estilo realista, do busto de Maria Vesta Viana, à Prefeitura Municipal de São Cristóvão. Na cerimônia de entrega, a poetisa e ocupante da Cadeira que leva o nome da artista homenageada, fez uma breve reflexão sobre a vida e a obra de Vesta.



(Foto: Heitor Xavier)

 

A cerimônia aconteceu no Salão de Artes Vesta Viana, com a presença de estudantes, aristas, membros da Confraria Sancristovense de História e Memória, autoridades locais, amigos e amantes das artes, onde de pronto sua imagem fora instalada.

 


  

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Fontes: https://thiagofragata.blogspot.com/search/label/Vesta%20Viana

Academia Sancristovense de Letras e Artes - ASCLEA: ASCLEA HOMENAGEIA MARIA VESTA VIANA (academiascletras.blogspot.com)

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Vera Lúcia dos Santos é de São Cristóvão, formada em Letras, professora, pesquisadora, escritora e poetisa. Membro fundadora da Academia Sancristovense de Letras e Artes, da Academia Municipalista de Sergipe e membro efetivo da Confraria Sancristovense de História e Memória. Participa dos Coletivos Literários: Sarau Sergipano de Mulheres e Café Poético Sergipano. Autora dos livros “O Resgate Memorialístico do I Festival de Arte de São Cristóvão”, “Eu Barco, poesia que enfuna o fluxo das marés” e do Cordel “São Cristóvão e Seus Festivais”. É coautoras em diversas antologias e tem textos publicados em jornais e redes sociais.